Em 2025, a atenção do mundo se volta para a física quântica, celebrada pela ONU como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas. Mais do que homenagear uma teoria que, há mais de um século, revolucionou a compreensão da matéria, a iniciativa destaca as tecnologias emergentes que começam a transformar profundamente a sociedade. Da computação à criptografia, ando por sensores ultra-precisos, a ciência quântica sai dos laboratórios para moldar o futuro de áreas como saúde, energia, segurança e meio ambiente. Isso é o que discute reportagem da nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas.
Apesar do tom enigmático com que o termo “quântica” muitas vezes é tratado, principalmente por seu uso indevido em discursos místicos ou comerciais, trata-se de uma ciência extremamente rigorosa. Ela investiga o comportamento das partículas elementares — como elétrons e fótons — em escalas tão minúsculas que as leis da física clássica não se aplicam mais. Fenômenos como a superposição, que permite a uma partícula estar em dois estados simultaneamente, e o emaranhamento, que conecta partículas mesmo a grandes distâncias, já não são apenas conceitos teóricos: hoje, sustentam aplicações tecnológicas inovadoras.
Entre essas aplicações está o computador quântico, que utiliza qubits capazes de representar múltiplos estados ao mesmo tempo, o que permite resolver problemas de enorme complexidade de forma exponencialmente mais rápida que os computadores tradicionais. Tecnologias como a criptografia quântica prometem comunicações digitais praticamente invioláveis, enquanto sensores quânticos abrem caminho para diagnósticos médicos mais precisos e sistemas de monitoramento ambiental mais eficientes. Na prática, já vivemos rodeados por produtos quânticos: lasers, câmeras digitais, ressonância magnética e painéis solares são frutos da chamada primeira geração de tecnologias quânticas. Agora, a segunda geração, com computadores e sensores quânticos, começa a ganhar espaço, embora ainda enfrente desafios técnicos e de formação de profissionais especializados.
No Brasil, os avanços são significativos, apesar das dificuldades. O país ocupa atualmente a 21ª posição no ranking mundial de produção científica em tecnologias quânticas, com cerca de 20 universidades públicas e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) atuando na área. Em 2024, foi criada a primeira rede quântica nacional, conectando instituições no Rio de Janeiro, e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estabeleceu um grupo de trabalho para elaborar diretrizes nacionais. Um dos destaques é o SENAI CIMATEC, em Salvador, que abriga o maior simulador quântico da América Latina, o Kuatomu, além de integrar centros internacionais como o QuIIN e o LAQCC, focados na distribuição quântica de chaves para segurança da informação. “Temos uma comunidade científica consolidada, com potencial para liderar projetos de grande porte em ciência e tecnologia quântica”, pontua Gustavo Wiederhecker, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entretanto, a trajetória brasileira não está isenta de obstáculos. A falta de financiamento consistente, a interrupção de redes colaborativas como o INCT de Informação Quântica e as restrições impostas pelo chamado “Quantum Embargo” — políticas lideradas por EUA e países da OTAN que dificultam a exportação de equipamentos estratégicos — limitam o avanço nacional. Apesar disso, a comunidade científica brasileira permanece resiliente e ativa, realizando pesquisas de ponta em áreas como emaranhamento quântico, termodinâmica quântica e sistemas supercondutores. “Em um momento em que o Brasil busca melhorar a qualificação técnica e superior dos seus profissionais, sonhando com um lugar entre os países desenvolvidos, investir em física e ciência é estratégico”, explica Liliana Sanz de la Torre, professora do Instituto de Física da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Leia a reportagem completa:
https://revistacienciaecultura.org.br/?p=8299
Ciência & Cultura